Nouvelles de Robert-Robert |
A leitura para crianças entrou na lista das
orientações básicas que pediatras americanos devem passar aos pais durante as
consultas. A importância dessa prática tornou-se oficial quando a Academia
Americana de Pediatria (AAP) fez uma declaração recomendando que pais leiam aos
filhos diariamente desde o berço, em 2015. Foi o primeiro movimento da entidade
para integrar a medicina pediátrica e o desenvolvimento da linguagem.
A declaração destaca o papel dos livros
infantis na aquisição do vocabulário e de outras habilidades de comunicação que
devem preceder a alfabetização para garantir o bom desempenho escolar.
Com essa estratégia, os pediatras esperam
reduzir as diferenças de linguagem entre crianças de famílias de alta e de
baixa renda. No final de 2014, um estudo da Universidade de Standford
concluiu que já aos dois anos é possível perceber diferenças no vocabulário de
acordo com escolaridade e renda da família. Filhos de pais com níveis mais
altos de educação conhecem, em média, 30% mais palavras nessa idade.
Como um estímulo isolado, os 15 a 20 minutos de
leitura diária em família não garantem a educação literária. Seu sucesso
depende de outros recursos que se complementam no lento e complexo processo de
familiarização com a palavra escrita.
Juntamente com os livros, o diálogo, as canções
e as rimas vão construindo no cérebro infantil o caminho que, mais tarde, vai
facilitar a passagem para o universo das letras. Um universo que não se limita à
decodificação dos símbolos: a relação saudável com a palavra escrita envolve a
interpretação dos vários tipos de textos, uma capacidade restrita à minoria da
população.
O fato é que aprender a ler é um processo
extremamente complexo, que começa no momento em que os pais apresentam o
primeiro livro para o bebê e se estende por toda a vida escolar. O cérebro
humano se desenvolveu para dominar a linguagem verbal, mas não apresenta
nenhuma sequer estrutura dedicada especialmente à compreensão da escrita. Ele
precisa criar um circuito para possibilitar a leitura, envolvendo e conectando
diversas regiões.
As mudanças provocadas pela leitura são tão
profundas que afetam não apenas a atividade como a anatomia do cérebro. Tanto
que parte de trás do corpo caloso (região que une os hemisférios cerebrais) é
mais grossa em letrados, o que mostra forte aumento no fluxo de informações
entre os hemisférios. Não apenas ao ler, como ao ouvir palavras, o lado
esquerdo do cérebro é mais ativo nas pessoas com capacidade de leitura.
Trata-se, portanto, de uma transformação que não pode e nem deve acontecer
de forma rápida ou precipitada. Apesar de muitos pais e escolas acreditarem que
o sucesso na educação infantil está relacionado à alfabetização precoce,
ela pode ser um dos problemas da construção fraca desse novo circuito.
O autor de livros infantis e especialista
em leitura Mem Fox defende que "mil livros sejam lidos às crianças" antes que elas comecem a ler. Isso não significa comprar todos os títulos infantis do
mercado: repetições são válidas e importantes nessa fase da infância. Para
crianças é uma grande satisfação poder prever o que vai acontecer na história e se familiarizar com as palavras e expressões do livro.
Seja qual for o tempo de cada um, a ampliação da capacidade cerebral requer muita prática e o desenvolvimento de todas as áreas que abrange. E
isso não se consegue ensinando bebês a ler, mas lendo para eles, mostrando a
eles, de forma incansável, toda a riqueza de significados e possibilidades que
a língua oferece.
Belo texto Michele! vou compartilhar, um beijo
ResponderExcluirObrigada, Thais! :-)
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